segunda-feira, 31 de agosto de 2009

leitura e análise de obra:




Artefato arqueológico
Urna funerária ou Igaçaba indígena
Técnica:Cerâmica Marajoara
Local:Ilha do Marajó, Pará, Brasil.
Data: 1500 a. C.




Urna funerária em cerâmica pintada em negro e vermelho sobre fundo branco. Possuí característica antropomórfica e tipicamente feminina. Está relacionada a atividades cerimoniais, servindo para legitimar e reforçar posições de prestígio, associando as novas elites com o mundo ancestral e sobrenatural através dos grafismos decorativos, mostrando como representações mais estilizadas de elementos da natureza.
O figurativismo que contrasta com as representações mais abstratas de elementos da natureza, mais estilizadas, reforça a idéia de comunicar idéias para o mundo externo. As representações naturalistas, juntamente com os grafismos, são utilizadas para veicular idéia, para narrar estórias mitológicas, ou ainda para simbolizar parentesco ou filiação a determinado grupo social. Representam formas de pensar, de conceber o mundo, de entender os papéis sociais.
A figura humana na arte indígena é uma auto-representação, um conjunto finito de signos, com imagem, desenhos e cores que, ao se combinarem, tem a capacidade de expressarem infinitas idéias. A representação de humanos e animais na arte Marajoara acontece não apenas em sua forma naturalista, mas também de forma icônica, por meio de grafismos bastante estilizados, ou simplificados, nem sempre reconhecíveis à primeira vista, mas nos quais podemos identificar os traços básicos de olhos, boca, nariz e o restante do corpo. Provavelmente a intenção era tanto a de representar o humano como a de humanizar o objeto, As indicações de sexo feminino se constituí de vagina, seios, útero e ventre.
A figura feminina também lembra uma coruja. Percebe-se a linha supra-ocular, pálpebra e, a mandíbula superior, além do formato geral do corpo, o que é para a cultura amazônica, a coruja como símbolo da morte, observando que os olhos apresentam-se em alto relevo, são arredondados e estão semi-cerrados, sugerindo que estes representavam o sono ou a morte. Na representação apenas da cabeça, ocupa uma posição de destaque sobre a cerâmica, aparece sobre a parte mediana e superior do vaso. Essa localização central indica a importância do humano na cosmologia Marajoara.
Ainda nessa representação humana decorativa, com várias técnicas, textura, imagina-se que estes desenhos eram também utilizados para a pintura corporal ou na escarificação, e a mudança do corpo, como olhos e introdução de objetos nos lóbulos das orelhas. A produção do corpo humano na cultura marajoara, observada através da cerâmica, retrata, como em outras sociedades indígenas o tornar-se humano, passo necessário para a socialização do indivíduo. O grande gasto de tempo e recursos humanos na manufatura da cerâmica, sugere que na sociedade marajoara havia a divisão de tarefas.
As transformações sociais estão marcadas nos objetos artísticos, fontes de informação privilegiada sobre a vida social e o comportamento cultural das sociedades do passado. Indica a existência de uma sociedade hierarquizada, que necessitava de permanente suporte e legitimação simbólica.

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